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‘Cinema não é só o que passa nas grandes redes’, diz Kleber Mendonça sobre ‘Dormir de Olhos Abertos’ - Ingresso.com
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‘Cinema não é só o que passa nas grandes redes’, diz Kleber Mendonça sobre ‘Dormir de Olhos Abertos’

Ao lado de Emilie Lesclaux, o diretor de ‘O Agente Secreto’ assina a produção do longa, que estreou nesta quinta-feira; veja a entrevista

Guilherme Thomaz
12/09/2025 | 12:23Atualizado em: 12/09/2025 | 12:34
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‘Cinema não é só o que passa nas grandes redes’, diz Kleber Mendonça sobre ‘Dormir de Olhos Abertos’

Nesta quinta-feira (11), os cinemas brasileiros receberam a estreia de “Dormir de Olhos Abertos”, novo filme da diretora alemã Nele Wohlatz, com distribuição pela Sessão Vitrine Petrobras.

Produzido pelo cineasta Kleber Mendonça Filho e por sua esposa, a produtora francesa Emilie Lesclaux – dupla responsável por títulos como “Bacurau” (2019), “O Som ao Redor” (2012) e o premiado em Cannes “O Agente Secreto” –, o novo longa aposta em uma comédia silenciosa e poliglota sobre pertencimento, identidade e deslocamento, apresentando um Brasil ao mesmo tempo familiar e desconcertante, a partir de um olhar estrangeiro.

Para entender mais sobre a proposta do projeto, a Ingresso.com entrevistou a dupla. Logo no início da conversa, Kleber revelou que a gênese de “Dormir de Olhos Abertos” nasceu a partir de um episódio real que ele compartilhou com a diretora durante o Festival de Viena:

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“Um dos grandes temas no mundo de hoje – certamente no Brasil – que eu venho explorando, investigando e dramatizando em alguns filmes, é o conflito entre pobreza e riqueza. Aqueles prédios foram feitos para uma determinada fatia do mercado e aí, você tem um empresário chinês que aluga ou compra – não sei, acho que é alugado –, dois apartamentos para colocar os seus trabalhadores. Isso deu um conflito muito curioso de comportamento, de cultura, de classe. Eu conversei com a Nele [Wohlatz] num jantar na Viennale, que foi quando a gente se encontrou – eu estava lá com ‘Aquarius’ e ela com ‘O Futuro Perfeito’ –, e ela achou muito interessante. No ano seguinte, ela veio para o Janela Internacional de Cinema não apenas como jurada, mas também para conhecer Recife e a comunidade chinesa. Foi quando ela teve a certeza de que gostaria de fazer esse filme, aí nós entramos como produtores e tudo aconteceu”.

Na sequência, Emilie refletiu sobre as singularidades que envolveram o longa em comparação com outras produções realizadas anteriormente, destacando a complexidade de lidar com múltiplos países envolvidos:

“Ah, muitos desafios. Trabalhar com uma equipe e elenco de vários países é muito interessante, enriquecedor, mas também é difícil. Sintonizar todos essas diferentes culturas e línguas gerou muitos desafios, mas uma vez que a gente achou um sistema para trabalhar, deu tudo certo. Uma coprodução com quatro países não é fácil, do ponto de vista burocrático, de fuso horário e cultural. A parte burocrática foi grande, o filme começou numa época que a Ancine estava travada e o dinheiro demorou para sair e a questão da coprodução sempre complica a agilidade desses processos”.

A produtora também revelou como a pandemia do COVID-19 impactou o lado ficcional da narrativa e o planejamento original do elenco, que inicialmente iria contar apenas com atores amadores:

“A gente também teve que achar um elenco, já que a Nele tinha uma ideia de trabalhar com não profissionais, assim como no filme anterior dela. Seriam pessoas que interpretariam elas mesmas. Fizemos a pesquisa e as encontramos, mas com a pandemia elas sumiram. Então, acabou que ela teve que se aventurar mais na ficção e a gente reencontrou uma parte, mas tivemos que compor com um elenco profissional. Tiveram esses desafios, mas em termos de filmagem, foi tudo muito tranquilo, assim, muito bom”, falou Emilie.

Mais adiante, Kleber traçou um paralelo com seu próximo filme, “O Agente Secreto”, também ambientado em Pernambuco, salientando a importância de explorar narrativas ambientadas em territórios que fogem dos cenários mais recorrentes no audiovisual brasileiro:

“Eu, eu cresci em Recife, vendo o Rio, São Paulo, Los Angeles – onde eu estou hoje –, Nova York e raramente Paris ou Londres. A gente consumia tudo de fora. Me lembro de perguntar para o meu pai, quando criança, o motivo dos táxis no Recife não serem amarelos como na televisão, ou seja, como os do Rio de Janeiro. A verdadeira noção de ter um uma troca cultural sadia, é você poder exportar as suas próprias imagens. Fico feliz como meus filmes estabeleceram uma certa normalidade da imagem do Recife, (...) então, é muito bom ver um filme que se passa na cidade, no Brasil, feito por uma alemã com personagens chineses. Pessoalmente, eu queria muito que esse filme existisse para eu ter o prazer de assisti-lo, eu estava muito curioso de sentir esse sabor diferente (...) ainda assim plenamente reconhecível para nós brasileiros. É estranho você ver o filme e dizer: ‘Nossa, eu não consigo ver Recife nesse filme’. Ele está no filme, mas com uma apresentação distinta”.

“Dormir de Olhos Abertos” foi reconhecido no Festival de Berlim com o prêmio de Melhor Filme da Crítica Internacional. Sobre a conquista, Emilie destacou a importância desse tipo de reconhecimento para a trajetória do longa nos cinemas, enquanto Kleber ressaltou o momento promissor do cinema nacional, que soma vitórias marcantes como o Oscar de “Ainda Estou Aqui” e os troféus em Cannes de “O Agente Secreto”:

“Qualquer reconhecimento assim é sempre bom, vai ajudar o filme chamando a atenção de outros festivais e depois no circuito comercial. O prêmio da crítica sempre tem um sabor especial. O Kleber foi crítico por tantos anos, então é muito bonito, eu gosto muito desses prêmios da FIPRESCI, a gente ganhou também com ‘O Agente Secreto’ em Cannes, e sempre vem com uma justificativa, assim, muito especial. São prêmios que me tocam muito”, disse Emilie.

“A gente está num momento bem interessante do cinema brasileiro, ‘Ainda Estou Aqui’, obviamente, é uma referência muito grande, mas, nesse momento ‘O Último Azul’ está tendo um excelente lançamento nos cinemas. ‘O Agente Secreto’ é uma promessa de também seguir esse caminho, há uma energia boa em torno do filme que é muito peculiar, espero que encontre o seu público. Ele está sendo lançado pela sessão Vitrine da Petrobras, é um projeto dentro da Vitrine que promove a chegada de filmes que o mercado acredita ter um menor alcance – não necessariamente significa isso –, às salas de cinema. Está sendo feito um trabalho muito bom. É por isso que a gente está apoiando tanto o lançamento, gostamos muito do ‘Dormir de Olhos Abertos’”, complementou Kleber.

Ainda sobre a Sessão Vitrine Petrobras, o cineasta destacou o papel fundamental da iniciativa na valorização de produções consideradas de menor apelo comercial e na preservação do acervo cinematográfico do país:

“Eu acredito totalmente em fomento para obras de expressão artística que não necessariamente se encaixam no que o mercado acredita ser viável e isso tem acontecido a Sessão Vitrine trouxe também o ‘Durval Discos’ da Anna Muylaert, o ‘Saneamento Básico’, ‘A Hora da Estrela’... o Brasil está muito atrasado na atualização do seu arquivo através de novas tecnologias de restauração. Estamos finalmente engrenando uma velocidade aí de cruzeiro, talvez nos próximos 10 anos teremos algo entre, não sei, algumas centenas de filmes que serão trazidos de volta do arquivo. É muito importante que o público, em geral os mais jovens, entendam que o cinema não é só o que passa no nas grandes redes. Quando você vê um projeto como esse você diz: ‘Uau, esse filme tem 30 anos e é incrível, que bom que eu vim ver’”.

Por fim, os dois falaram sobre como equilibram o convívio pessoal com a rotina intensa de trabalho, explicando que a parceria entre vida e cinema se entrelaça de forma intuitiva e complementar:

“É algo que não segue um método, uma cartilha. É simplesmente viver a vida e trabalhar juntos. Eu não saberia recomendar isso para ninguém e nem dizer ‘não faça isso’. É tão específico e pessoal... a gente trabalha bem, eu estou muito feliz com o que temos feito, se respeitando e vivendo juntos”, pontuou Kleber.

“Muita gente pergunta: ‘Como é que vocês fazem? Viver juntos e ainda trabalhar juntos, não é demais?’. Acho que seria mais difícil eu, não sei, trabalhar em outra área e não entender nada do que ele faz. Para mim, faz mais sentido dividirmos essa paixão e, ao mesmo tempo, fazer isso dentro da mesma área. Fazemos coisas muito diferentes, que se completam, e tem funcionado bem, aparentemente”, completou Emilie.

Na trama de "Dormir de Olhos Abertos", Liao Kai Ro interpreta Kai, uma jovem de Taiwan que chega ao Brasil de férias com o coração partido. Quando o ar-condicionado de seu quarto quebra, ela entra por acaso em uma loja de guarda-chuvas, cujo dono desaparece misteriosamente. Em sua busca por respostas, a protagonista conhece um grupo de trabalhadores chineses que vive em um arranha-céu de luxo no Recife e desenvolve uma inesperada rede de amizades, atravessada por afetos e mal-entendidos.

Além de Kai Ro, “Dormir de Olhos Abertos” conta com a participação de outros talentos em seu elenco, como Chen Xiao Xin, Wang Shin-Hong, Nahuel Pérez Biscayart e Lu Yang Zong – garanta seus ingressos por meio de nosso site ou app.

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