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Conquista inédita, tradições e cinema nordestino: como ‘O Agente Secreto’ fez história em Cannes
Longa levou os prêmios de Melhor Ator e Direção, além de ser laureado pela crítica

No último sábado (24), teve fim a 78ª edição do Festival de Cinema de Cannes, um dos mais prestigiados eventos da indústria mundial. Foi lá que aconteceu a estreia de "O Agente Secreto", mais novo filme de Kleber Mendonça Filho ('Aquarius' e 'Bacurau'), que saiu com dois prêmios do festival: o de Melhor Ator para Wagner Moura (‘Tropa de Elite’), e Melhor Direção para Kleber.
O primeiro prêmio é inédito para o país, com Moura sendo, até então, o único brasileiro a levar a estatueta de Melhor Ator para casa. Antes, apenas Fernanda Torres e Sandra Corveloni haviam sido reconhecidas na categoria de atuação feminina, por seus trabalhos em “Eu Sei que Vou Te Amar” (1986) e “Linha de Passe” (2008), respectivamente.
Já Kleber se junta a Glauber Rocha como o segundo diretor brasileiro a conquistar a estatueta de Melhor Direção. Os dois cineastas nordestinos (Kleber é pernambucano e Glauber nasceu na Bahia) reforçam a potência da sétima arte da região. Em 1969, Rocha, grande nome do movimento Cinema Novo, venceu na categoria de Melhor Direção por “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”.
FREVO E CARNAVAL EM CANNES: A CULTURA DE RECIFE NA RIVIERA FRANCESA
Na tarde da exibição de "O Agente Secreto", o público de Cannes foi transportado para o carnaval de Recife. O diretor pernambucano e a equipe chegaram ao tapete vermelho acompanhados pelo grupo Guerreiros do Passo, formado por discípulos do Mestre Nascimento do Passo e por músicos da Orquestra Popular do Recife, levando a energia da cultura do Recife à Croisette. Essa é a primeira vez que o frevo é apresentado no tapete vermelho do festival.
O reconhecimento em Cannes marca a quinta participação de Kleber Mendonça Filho no evento. Em 2019, ele já havia sido laureado com o Prêmio do Júri por “Bacurau”, codirigido com Juliano Dornelles. Seus filmes anteriores - “O Som ao Redor” (2012), “Aquarius” (2016) e “Retratos Fantasmas” (2023) - também passaram pelo Festival e conquistaram espaço nas listas de melhores do ano do jornal The New York Times, além de alcançarem público expressivo nos cinemas brasileiros e internacionais.
Ainda que tenha sido o filme mais premiado do Festival de Cannes deste ano, “O Agente Secreto” não levou a principal honraria do festival, a Palma de Ouro. O vencedor da categoria foi o filme iraniano “A Simple Accident” de Jafar Panahi. A única vez que o Brasil recebeu o prêmio máximo em Cannes foi em 1962, com “O Pagador de Promessas”, de Anselmo Duarte.
Contudo, essas não foram as únicas surpresas para “O Agente Secreto”. Também nesta edição do evento, o filme brasileiro ganhou o Prêmio FIPRESCI (Federação Internacional de Críticos de Cinema), outorgado por jornalistas críticos de mais de 50 países. O longa também recebeu o Art et Essai, uma distinção concedida pela AFCAE (Associação Francesa de Cinema d’Arte et d’Essai), que é composta por exibidores independentes da França.
Em sua avaliação, o júri da FIPRESCI explicou que escolheu premiar o longa por conta de sua linguagem universal, que mergulha o espectador nos diversos sentimentos explorados pela narrativo:
“Escolhemos um filme que tem uma generosidade romanística e épica; um filme que permite digressão, diversão, humor e caráter para evocar um tempo e lugar e uma história rica, estranha e profundamente preocupante de corrupção e opressão. Um filme que faz suas próprias regras, que é pessoal, mas universal, que leva seu tempo e mergulha você em um mundo – o mundo do Brasil governado pelos militares em 1977 e o mundo das pessoas boas em tempos ruins.”
Ambientado em Recife no ano de 1977, “O Agente Secreto” é um thriller político que segue a história de Marcelo (Moura), um especialista em tecnologia que foge de um passado misterioso e volta ao Recife em busca de paz. Contudo, ele logo percebe que a cidade está longe de ser o refúgio que procura.
Além de Moura no papel principal, o longa ainda conta a presença de diversos talentos conhecidos, como Maria Fernando Cândido, Gabriel Leone, Carlos Francisco, Roberio Diogenes, Hermila Guedes, Isabél Zuaa e Alice Carvalho.
Após essa sua passagem em Cannes, “O Agente Secreto” participará da competição oficial do Sydney Film Festival, que será realizada entre os dias 4 e 15 de junho, na Austrália.
“O Agente Secreto” estreia em breve nos cinemas do Brasil.
