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Pacificado | Favela-movie intimista revela dores e alegrias da comunidade: "Isso incomoda”

Em entrevista exclusiva, elenco conta como a história foi construída em parceria com moradores do Morro dos Prazeres

Mariana Assumpção11/08/2022 | 13:00
Pacificado | Favela-movie intimista revela dores e alegrias da comunidade: "Isso incomoda”

Primeiro filme nacional a ganhar a Concha de Oro, principal prêmio do Festival de Cinema de San Sebastián, na Espanha, o longa Pacificado finalmente estreia nos cinemas do Brasil.

Chegando às telonas nesta quinta-feira (11), a produção explora o dia a dia de alguns moradores do Morro dos Prazeres, famosa favela carioca, no período no qual o Rio de Janeiro sediou as Olimpíadas de 2016.

Enquanto as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) ocupam as favelas da cidade, conhecemos a história de Tati (Cássia Nascimento), uma menina introspectiva de 13 anos que luta para se conectar com seu estranho pai, Jaca (Bukassa Kabengele), libertado da prisão num momento turbulento da comunidade. Enquanto tentam se conectar, Tati e Jaca precisam navegar entre as forças que ameaçam suas esperanças para o futuro.

Na semana passada, alguns membros do elenco e equipe concederam uma entrevista exclusiva à Ingresso.com, e revelaram detalhes sobre as filmagens e sobre o desenvolvimento de Pacificado.

Paxton "Pax" Winters, diretor e corroteirista, nasceu nos Estados Unidos e morou por quase uma década no Morro dos Prazeres. Sob seu olhar estrangeiro, o filme conseguiu, surpreendentemente, trazer uma perspectiva intimista sobre dramas enfrentados por muitos dos moradores do local. Pax explicou como foi possível chegar a esse resultado, que se diferencia do favela-movie clássico em muitos aspectos:

"Na verdade, eu não sabia o que era favela-movie antes de tentarmos buscar recursos. Eu só queria fazer um filme com meus amigos da favela. Eu estava morando lá há seis ou sete anos, antes de termos a ideia para fazer um filme. E começou com a tentativa de fazer apenas curtas-metragens com jovens para mostrar como fazer cinema, como um exercício".

O cineasta ainda comentou sobre as participações de Cássia, uma das protagonistas, e Rayane Conceição, que também se destaca no elenco. Assim como grande parte da equipe, ambas são moradoras da favela na qual o filme foi rodado e contribuíram para que histórias femininas e realistas fossem o foco da trama. Segundo Pax, ele foi "apenas um veículo": seu principal trabalho era perguntar e escutar, construindo sua obra organicamente com colaboração ativa da comunidade:

"Normalmente, filmes que se passam nesse ambiente mostram o bandido, os policiais… mas, para mim, o que foi interessante depois de tantos anos morando lá, foi essa ideia de comunidade verdade (...) Assim, pensamos que o melhor olhar para experienciar isso é o de uma menina. E é claro que quando você pensa em favela-movie, você não pensa em uma menina com 15 anos, mas ela tem que viver entre essas forças. E, junto comigo, havia a Cássia e Rayane. Rayane morava em frente à minha casa, e eu sempre a observava porque ela passava o dia cuidando de crianças, lavando roupa, fazendo comida… ela parecia um adulto. Tanto que, uma vez, falei isso para ela e ela respondeu: 'Sou um adulto disfarçado'. Essa foi uma fala forte e inspiradora para mim, porque ela tem essa consciência, ela é criança, mas age como um adulto", revelou o diretor, citando uma conversa com Rayane quando a menina tinha apenas oito anos de idade.

Bukassa Kabengele (Carandiru: O Filme), ator congolês naturalizado no Brasil, divide a tela com Cássia Nascimento em cenas marcantes entre pai e filha. Para ele, a química poderosa que a dupla transparece nas telas aconteceu de forma muito natural:

"Eu acho que a química foi instantânea. Ela passa por aqueles lugares que a gente não explica e não precisa explicar: a gente simplesmente aproveita. Conversando com o Pax, eu entendi que já tinha ali, entre essas personagens protagonistas, uma situação não muito verborrágica, que costuma ser corriqueira em novelas: explicações, muita fala… e quando você não fala muito, você precisa sentir (...) Quando eu olhei para a Cássia e ela me olhou, eu sou pai… vi minha filha ali", contou, emocionado.

Bukassa também refletiu sobre as diversas tentativas de tirar o projeto do papel. Para ele, Pacificado foi negligenciado porque a história do filme tem um grande potencial de contrariar o status quo:

"Esse projeto foi tantas vezes negado porque as histórias pretas são negadas de uma maneira geral. Porque você dar protagonismo a situações que nos humanizam, no sentido de que 'olha, eu vivo isso, eu vivo dores e delícias e eu tenho direito à felicidade', isso pode me trazer uma situação de consciência, de renascimento dentro dessa merda na qual somos jogados, para que eu possa buscar o meu lugar - e isso incomoda", declarou Bukassa.

José Loreto, que está no ar atualmente como Tadeu na novela Pantanal, da Rede Globo, dá vida a Nelson na trama. O ator relembra o período das filmagens com carinho, já que sua ex-esposa, Débora Nascimento, também participou do longa e estava grávida de Bella, filha do casal.

Para ele, sua segunda experiência no cinema - anteriormente, o ator interpretou José Aldo em Mais Forte Que O Mundo (2016) - o transformou, e que assistir ao longa foi "uma catarse":

"Primeiro, esse filme é muito surpreendente. A gente está acostumado com favela-movie, termo que o Pax nem conhecia, mas nunca com esse olhar íntimo. E isso é fruto de muito trabalho do Maga, da produção e do Pax, de pedir sempre o realismo, essa mistura de atores com não atores, construindo esse ambiente, calçando, me ajudando, me dando suporte, como um 'estrangeiro do morro'. Então, eu acho que o filme é essa bomba de emoção, difícil não se envolver (...) Eu estou fazendo um papel que é importante para o filme e para mim, uma troca maravilhosa, cresci como ator fazendo um trabalho diferente, de ser menos, ser sutil. E já estou botando fé em Pacificado 2! Mas vamos assistir primeiro a Pacificado, dar a visibilidade que esse filme tanto merece", concluiu Loreto.

Jefferson Brasil, Raphael Logam, Thiago Thomé e uma das damas do cinema nacional, a veterana Léa Garcia, também compõem o elenco. Pacificado chega hoje aos cinemas, e os ingressos para o longa já estão disponíveis - garanta o melhor lugar na sessão por meio do nosso site ou app.

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