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Mulher-Gato e o Feminismo | Como a história da anti-heroína de Batman se conecta com o movimento? - Ingresso.com
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Mulher-Gato e o Feminismo | Como a história da anti-heroína de Batman se conecta com o movimento?

Mulher-Gato e o Feminismo | Como a história da anti-heroína de Batman se conecta com o movimento?

Em mais de 80 anos, personagem foi impactada pelos avanços sociais sobre questões de gênero

Mariana Assumpção
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No início da década de 40, Selina Kyle surgia nos quadrinhos sob a alcunha de A Gata (ou The Cat, no original). Apresentada, a princípio, como uma vilã dos quadrinhos do Batman, ao longo de mais de 80 anos de história, a personagem ressignificou seu lugar na cultura pop.

Hoje reconhecida como uma anti-heroína, a trajetória da Mulher-Gato é marcada por conquistas e estereótipos relacionados às mulheres e ao feminismo. Relembre algumas versões da personagem e como ela foi uma importante representante feminina nas HQs e nas produções audiovisuais do Homem-Morcego:

A SEGUNDA GUERRA E O PAPEL DA MULHER

Em 1939, início da Segunda Guerra Mundial, as mulheres passaram a exercer funções bastante descoladas das impostas pelo patriarcado. A cultura estadunidense, responsável por trazer a Mulher-Gato ao mundo, foi fortemente influenciada pelo período. Nos primeiros anos da década seguinte, os homens serviram ao exército e as mulheres se mantiveram no país, atuando em frentes que, até então, eram ocupadas majoritariamente por homens.

Com o término do conflito em 1945, as mulheres começaram a retornar aos papéis aos quais foram historicamente designadas: mães e donas de casa. Embora a década tenha sido marcada por importantes publicações sobre feminismo, como a obra O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir, as mulheres ainda tinham um longo caminho de luta a percorrer.

Séries, filmes e propagandas norte-americanas definiam o visual doméstico e recatado, corroborando para reforçar a ideia retrógrada do "sexo frágil". Não à toa, foi nessa época que os quadrinhos apresentaram uma Selina Kyle abdicando de sua vida pregressa, e se casando com o Batman para construir o sonho imposto a todas as mulheres da época: ter um marido, um lar e filhos.

A SÉRIE CLÁSSICA DA DÉCADA DE 60

Embora os anos 50 tenham sido palco para representações femininas limitantes, o mundo depois da guerra nunca mais foi o mesmo. As mulheres passaram a entender a sua função social com mais clareza, e a segunda onda feminista culminou no rompimento de alguns dos limites machistas vivenciados por elas. A revolução sexual, proporcionada pela invenção da pílula anticoncepcional, aliada a diversos outros pensamentos progressistas da época, são alguns dos exemplos de que, nesse momento, as mulheres davam um passo importante como grupo social.

Além disso, a moda também foi responsável por acompanhar o levante de conscientização sobre o corpo feminino, e a possibilidade de exibi-lo com menos pudor. A representação mais famosa da Mulher-Gato no período fez parte do seriado Batman, lançado em 1966, no qual Adam West e Burt Ward interpretavam o Homem-Morcego e Robin, respectivamente.

A série trouxe duas atrizes no papel da personagem: Julie Newmar e Eartha Kitt. Newmar, intérprete da Mulher-Gato nas duas primeiras temporadas do programa, lançou tendências de maquiagem e comportamento. Com a mistura equilibrada de sensualidade e vilania, a atriz usava o poder de sedução para colocar os planos criminosos da personagem em prática, trajando um uniforme de vinil bastante ousado para os padrões conservadores.

Já Eartha Kitt, ativista e primeira atriz negra a viver a personagem, conseguiu elevar a importância da Mulher-Gato a outro patamar. Mesmo que tenha atuado em apenas cinco episódios da série, protagonizou cenas marcantes, que representavam uma personagem engenhosa e sagaz. Acompanhando outras mulheres negras de destaque da televisão norte-americana, como a Uhura de Nichelle Nichols em Jornada Nas Estrelas, Kitt personificou uma Mulher-Gato empoderada e independente, sem perder as demais características da vilã.

OS ANOS 90 E A FEMME FATALE

O termo femme fatale ("fêmea fatal", na tradução do francês) é oriundo do cinema noir, designando a personagem feminina que, embora represente um papel de interesse amoroso, carrega segredos e riscos, comumente ofuscados por suas infalíveis técnicas de sedução.

Em 1992, Michelle Pfeiffer encarnou o arquétipo em sua versão da Mulher-Gato de Batman: O Retorno, dirigido por Tim Burton. A presença da femme fatale se deu em diversas produções marcantes do período, como Atração Fatal (1987), Instinto Selvagem (1992) e A Mão Que Balança o Berço (1992).

Fazendo um paralelo da ascensão dessa representação com o movimento feminista, fica claro que a indústria cinematográfica, dominada por profissionais do sexo masculino, refletiu o medo dos homens em relação às pautas de gênero levantadas nos anos 80 e 90. A figura bestializada e vilanesca de mulheres independentes, destinadas a conclusões amargas e cruéis na ficção, pode ser lida como uma tentativa de invalidar as discussões sociais que marcaram esse período.

Contudo, embora o arquétipo da femme fatale esteja carregado de estereótipos negativos e desvios morais, ele pode ser analisado sob uma ótica mais otimista. A força e a autossuficiência dessas personagens são capazes de corroborar para que a representação da mulher seja retirada da submissão histórica da qual normalmente é refém, tornando-a dona de sua própria história.

OS ANOS 2000 E OS NOVOS RUMOS

Até aqui, mesmo que tenha ajudado a descontruir uma série de mitos sobre os papéis sociais de gênero, a Mulher-Gato sempre foi representada por um corpo feminino padrão. Tanto nas HQs (todas desenhadas por homens) quanto no audiovisual, os atributos físicos e estéticos de Selina Kyle marcaram sua história, sendo responsáveis inclusive por livrá-la de alguns apuros.

Não é condenável que a Mulher-Gato possua um corpo "perfeito", a questão se trata do porquê e como essa representação é repetida à exaustão e até que ponto as suas curvas passam a ser o suficiente para defini-la.

No longa Mulher-Gato, lançado em 2004, a versão de Halle Berry foi alvo de críticas nesse sentido. Além de explorar superpoderes felinos esvaziados de propósitos, uma série de estereótipos relacionados a hiperssexualização feminina fizeram do filme um retrocesso para a Mulher-Gato. Apesar de trazer uma atriz negra em um filme solo da personagem, seu protagonismo foi engolido por um roteiro incapaz de destacar seus atributos mais importantes.

Mas, calma, nem tudo estava perdido. No novo Batman, estrelado por Robert Pattinson, Zoë Kravitz entregou uma Selina Kyle realista e alinhada a questões da atualidade. Em entrevistas para divulgar o filme, Kravitz afirmou que atribuiu características inéditas em sua versão live-action da personagem, como o fato de entendê-la como uma mulher bissexual.

Deixando de lado o uniforme utilizado por suas antecessoras, com vinil e máscara fetichizados, Zoë representou a Mulher-Gato com um macacão preto e um gorro improvisado, que remetem levemente à representação estética com a qual estamos acostumados.

À Vogue, Kravitz afirmou que considera a personagem feminista, e explicou que seu cuidado com os felinos pode ser lido como uma metáfora sobre o ativismo da Mulher-Gato:

"Com certeza, sua conexão com gatos de rua está bem ligada com o fato de que ela também foi abandonada e se sente sozinha. Ela quer lutar por pessoas que, assim como ela, também estão perdidas e que foram maltratadas e não têm nada. E, muitas vezes, essas pessoas são mulheres", concluiu.

O QUE A MULHER-GATO AINDA PODE APRESENTAR?

Matt Reeves, diretor do novo longa do super-herói, já deixou claro que pretende expandir o universo do Homem-Morcego nos cinemas e na televisão. A série spin-off focada no Pinguim, prevista para chegar em breve ao streaming da HBO Max, é um exemplo de que só estamos começando a conhecer a Gotham City do cineasta.

O sucesso de Batman deve impulsionar o desenvolvimento de novas produções também para o cinema, e a presença da Seline Kyle de Zoë Kravitz talvez ajude a moldar uma imagem ressignificada da personagem nas telonas - cada vez mais descolada do fetiche e erotização trazidos pelos homens que a criaram, sendo capaz de exaltar seus maiores atributos, como a autonomia, inteligência, altruísmo e empoderamento.

Conseguir livrá-la dos rótulos de mocinha ou vilã, e afastar suas características do binarismo de gênero limitante, podem ajudar a consolidar a Mulher-Gato como um dos maiores ícones da cultura pop atual.

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