Nesta quinta-feira (29), os cinemas brasileiros serão contemplados com o retorno de duas obras marcantes da história do nosso país: o curta “Ilha das Flores” (1989) e “Saneamento Básico, o Filme” (2007) – este último, estrelado por Wagner Moura, o mais recente vencedor do prêmio de Melhor Ator em Cannes, além de Fernanda Torres, que também foi laureada no mesmo festival em 1986.

Ambos os títulos são dirigidos por Jorge Furtado, um dos nomes mais inventivos e respeitados pela indústria cinematográfica global. Agora restaurados em 4K, os filmes retornam ao circuito comercial como parte da iniciativa Sessão Vitrine Petrobras, com a promessa de reacender o debate sobre temas ainda urgentes, como o meio ambiente e o acesso à cultura.

A restauração de ambos os filmes foi liderada por Débora Butruce, preservadora audiovisual e curadora com mais de duas décadas de carreira dedicadas à preservação da memória do cinema brasileiro. Em entrevista à Ingresso.com, ela explicou como é realizada a digitalização, revelando os critérios de escolha dos filmes que integram o projeto:

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“A digitalização é um processo de migração tecnológica, saindo do ambiente fotoquímico – de quando os filmes eram feitos em película – para um ambiente digital. ‘Ilha das Flores’ é um clássico absoluto, ele faz parte do imaginário do cinema brasileiro. É um filme que passou por diversos lugares ao redor do mundo, é muito exibido em escolas, e trata de maneira pioneira o tema do meio ambiente", destaca, sobre o longa que fez parte da infância e adolescência de grande parte dos brasileiros.

"‘Saneamento Básico’ também aborda, de certa forma, essa questão, por conta de sua história. Ele é uma declaração de amor ao cinema, tendo um filme sendo feito dentro do filme, e a gente achou importante, nesse momento, trazer uma obra com essa temática para o público (...) então, nós acreditamos que esses dois títulos caminham juntos, e vai ser uma experiência única para o público, uma oportunidade incrível de poder rever esses dois trabalhos conjuntamente”.

A restauradora também revelou, em detalhes, como funcionam as etapas de um processo de digitalização de filmes, desde a análise minuciosa do estado físico das cópias, até a tecnologia envolvida no escaneamento. Segundo ela, cada material exige cuidados específicos, e os avanços técnicos atuais permitem preservar as características originais da obra:

“Antes do escaneamento, a gente sempre analisa os materiais, o estado de conservação deles. É muito importante reconhecer o quão frágil, ou não, eles estão, pois isso determina como vai ser feito o processo como um todo. Atualmente, os equipamentos de escaneamento não são agressivos, mas no passado, os roletes tinham dentes para o transporte. Já hoje em dia, esses roletes não são dentados, fazendo com que materiais mais deteriorados consigam passar nesse equipamento de maneira mais tranquila. Então, é sempre observar, manipulá-los com cuidado, principalmente os que não estão no bom estado de conservação – o que não é o caso dos filmes do Jorge Furtado –, e tentar captar o máximo de informação nesse momento do escaneamento. Essa atividade também tem um balanço de luz para permitir que a gente capte toda a gama de cores, caso o filme seja colorido, e todas as nuances de preto e branco, se ele for assim”.

Além de ter duas de suas obras escolhidas para a restauração, Jorge Furtado também acompanhou de perto parte do processo. O diretor participou da coletiva de imprensa da Sessão Vitrine Petrobras e manteve um diálogo constante com a equipe envolvida no trabalho:

“Ele tem muita confiança nos profissionais, a gente mantém o diálogo com ele, mas tem uma autonomia técnica em relação a isso, sobretudo baseada numa relação de confiança que se estabeleceu ao longo de todo esse processo.”

Débora Butruce refletiu sobre a importância de lidar com obras consagradas do cinema nacional, reforçando que restaurar um clássico é, acima de tudo, um exercício de responsabilidade cultural:

“Quando transformamos essas obras em versões digitais em 4K, a gente possibilita ampliação do acesso, já que passam a circular no formato que é disponibilizado nas salas de cinema comerciais hoje em dia. Isso permite que mais pessoas vejam e novas gerações consigam acessar essas obras, tão icônicas e superimportantes para o cinema brasileiro".

Com um elenco repleto de estrelas, como Bruno Garcia, Camila Pitanga e Lázaro Ramos, “Saneamento Básico” acompanha a história de uma pequena comunidade de descendentes de imigrantes italianos do interior do estado do Rio Grande do Sul, que recorre a um vídeo caseiro para tentar resolver os problemas de infraestrutura sanitária da região. O curta “Ilha das Flores”, por sua vez, é um documentário que retrata a jornada de um tomate desde sua plantação, colheita, transporte e venda em um supermercado, até apodrecer e ser jogado no lixo. A trajetória final do fruto explica a diferença que existe entre os alimentos, porcos e os seres humanos – garanta seus ingressos por meio do nosso site ou app.