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'Elementos' e o aumento da representatividade cultural em longas da Disney
Animação retrata uma família de imigrantes sul-coreanos e é inspirada em história real

"Elementos", a nova animação da Disney e Pixar, chega aos cinemas do Brasil nesta quinta-feira (22).
Como o trailer acima revela, o acaso fez com que Faísca e Gota se encontrassem. Ela, uma jovem espirituosa, e ele, um garoto divertido e tranquilo, constroem uma amizade que desafiará suas crenças sobre o mundo em que vivem. Será que os opostos realmente se atraem?
Além de explorar a relação dos protagonistas, "Elementos" traz como temática secundária a imigração. Faísca, que nasceu na cidade onde o filme se passa, chegou lá ainda na barriga de sua mãe, que emigrou de sua terral natal de forma corajosa.
A animação explora a diversidade cultural, e não é de hoje que o estúdio tem prezado pela pluralidade em suas produções - "Viva - A Vida É Uma Festa" (México) e "Encanto" (Colômbia) são exemplos recentes, mas isso não foi uma constante ao longo dos anos de atividade da Disney.
"ALÔ, AMIGOS" E A POLÍTICA DA BOA VIZINHANÇA
Apesar de ter produzido animações baseadas em contos estrangeiros anteriormente, como "Pinóquio" (Itália) e "Branca de Neve e os Sete Anões" (Alemanha), a Disney sempre se limitou a retratar histórias que se passavam no eixo Estados Unidos-Europa.
Foi apenas em "Alô, Amigos", longa-metragem lançado em 1942, que o estúdio trouxe para as telonas personagens e cenários típicos da América do Sul - ou melhor, alinhados à leitura da cultura latina pelos olhos do próprio Walt Disney e de sua equipe, após visitas a países como o Brasil, Peru e Bolívia.
O longa também marca a estreia do inesquecível Zé Carioca, o papagaio baseado na imagem do “malandro” do Rio de Janeiro.
O filme foi um grande sucesso e bastante bem-recebido pelo público, e isso motivou o estúdio a produzir outra longa em sequência, chamado "Você Já Foi à Bahia?" (1944). A história é protagonizada pelo Pato Donald, Zé Carioca e Panchito, um adorável galo vermelho mexicano.
Ambas as produções foram motivadas pelos eventos da Segunda Guerra Mundial, fazendo parte da chamada Política da Boa Vizinhança. Walt Disney e sua equipe foram enviados ao Brasil pelo presidente Franklin D. Roosevelt, para estudar nossas terras e cultura e retratá-las da forma mais positiva possível.
A manobra, além de trazer novos personagens e histórias para o catálogo do estúdio, foi uma tentativa de manter países latino-americanos mais afastados do nazismo e do fascismo europeu, e criar laços diplomáticos com os Estados Unidos durante o conflito que assolava o planeta.
OS ESTEREÓTIPOS NAS ANIMAÇÕES
Depois da dupla de filmes com cenários e personagens baseados na cultura de países da América Latina, a Disney seguiu contando histórias que, majoritariamente, eram ambientadas em países da América do Norte ou Europa.
Além disso, a base para as (poucas) tramas que se passavam fora desse eixo, estava sempre fincada em narrativas contadas por meros observadores, e não pelos membros efetivos das culturas as quais pretendiam retratar.
"Mogli - O Menino Lobo" (1967), por exemplo, foi inspirado no romance "The Jungle Book", do escritor Rudyard Kipling. Embora tenha nascido na Índia, ainda criança foi viver na Inglaterra, já que seus pais eram imigrantes em seus país de origem. O autor escreveu por anos sobre o seu conflito identitário, e é inegável que a representação de alguns personagens da animação, baseada em sua obra, está carregada de estereótipos negativos sobre os indianos e sua cultura.
Não por acaso, o streaming do Disney+ exibe um aviso aos usuários que assistem a "Mogli - O Menino Lobo", salientando que a animação clássica pode conter “representações negativas e/ou maus-tratos de pessoas ou culturas. Esses estereótipos estavam errados na época e estão errados agora”.
Outro famoso caso aconteceu em "Mulan" (1998), mais especificamente na figura do personagem Mushu. O carismático dragão, embora tenha cativado as crianças na época, retratava uma figura mitológica sagrada para os chineses, e trazer o ser como um alívio cômico para a animação foi alvo de diversas críticas.
No live-action da heroína, lançado em 2020, o personagem ficou de fora. A diretora Niki Caro e os produtores, além de prezarem pelo realismo, decidiram retirar Mushu da história como forma de respeito à cultura tradicional chinesa.
A REPRESENTATIVIDADE E A DIVERSIDADE CULTURAL DAS PRODUÇÕES ATUAIS
Hoje em dia, mesmo que a Disney tenha um histórico de representações questionáveis, o estúdio passou a entregar diversas produções que prezam pelo respeito à diversidade cultural e étnica.
"Moana - Um Mar de Aventuras" (2016), "Raya E O Último Dragão" (2020) e até mesmo "Encanto" são protagonizados por heroínas fortes, as quais ostentam diversos signos e características únicas, que corroboram com o aumento da representatividade nas animações do estúdio.
No caso de "Elementos", embora retrate um local fictício, a jornada de Faísca e sua família é baseada na experiência pessoal de Peter Sohn, diretor da animação.
Mesmo que o cineasta afirme que a imigração não tenha sido um tema inserido propositalmente na trama, como declarou ao Movie Web, ele confirma que Faísca tem muitos traços semelhantes aos dele, em sua juventude.
Nascido nos Estados Unidos e filho de imigrantes sul-coreanos, Sohn se revoltou durante um período da vida, ao perceber que os pais se jogaram no "sonho americano" sem dinheiro algum. Só na fase adulta ele pôde refletir sobre os sacrifícios que o casal fez para tentar uma vida melhor, e os agradeceu tardiamente.
Ao contar esta história para seus colegas de trabalho, todos o incentivaram a transformá-la em um roteiro. Assim, "Elementos" e seus protagonistas são uma alegoria leve sobre cooperação, amor e diversidade - sem esquecer das dificuldades e preconceitos enfrentados por estrangeiros durante o processo de mudança, os quais o cineasta fez questão de retratar na animação.
Ainda que os imigrantes, representados pelo povo do fogo, tenham costumes únicos, muitos deles foram inspirados em valores dos pais de Sohn, como o culto à ancestralidade e o respeito ao esforço por meio do trabalho. O bairro onde vivem, espaço que dividem com outros moradores do fogo, está recheado de elementos visuais que remetem à cultura da Coreia do Sul.
Nos últimos tempos, a Disney tem se preocupado em elevar vozes plurais, contratando profissionais e consultores das mais diversas etnias, crenças e culturas. A iniciativa torna o discurso sobre diversidade muito mais autêntico e inspirador, fazendo com que crianças e adultos de todo o mundo se sintam representados por novas histórias e personagens cativantes.
O filme, que já conta com 92% de aprovação da audiência do Rotten Tomatoes, está em cartaz exclusivamente nos cinemas - garanta já o seu ingresso para o longa por meio do nosso site ou app.
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